Real Madrid e Barcelona duelam neste sábado em um jogo que vale muito mais do que a liderança do Campeonato Espanhol (Foto: David Ramos/Getty
Images)
Dois dos principais times do
mundo se encontrarão pela 229º vez na história no próximo sábado (25/10), no
Santiago Bernabéu, para disputar muito mais do que um simples jogo de futebol. Real
Madrid e Barcelona se enfrentarão em um momento único de suas respectivas
histórias, o time da capital espanhola vem de uma temporada histórica, já os
catalães lutam para recuperar a hegemonia de títulos construída nos últimos
anos, que foi perdida na última temporada.
A Espanha se divide por causa
deste superclássico, ninguém fica indiferente quando Real Madrid e Barcelona se
cruzam, e na partida deste sábado não será diferente. Mas nem sempre foi assim,
nos primórdios da história ninguém poderia supor que um jogo dividiria um país,
primeiro porque os dois times são de cidades diferentes, segundo porque um não
representava a elite do país e o outro não abraçava as classes mais populares
ou a ideologia de uma região. Tampouco os dois representavam grupos religiosos
hostis (como ocorre no clássico entre Celtic e Rangers na Escócia).
A história explica que a
rivalidade que se vê hoje em dia dentro e fora de campo foi se solidificando
por questões politicas. “Não há uma data que especifique o começo dessa
rivalidade entre Madrid e Barcelona. Essa hostilidade foi fomentada por uma
série de episódios ao longo de toda história. O certo é que desde muito cedo,
Madrid e Barcelona foram assumindo de forma mais ou menos consciente uma carga
representativa em um caso da Espanha, e no outro da Catalunha. Os dois
tornaram-se porta-bandeiras de duas formas de estado em discussão: a
centralista e a federal”, defende o jornalista Alfredo Relaño, autor do livro
Nacidos para Incordiarse (Nascidos para se odiarem, em tradução livre).
*Para saber mais sobre a obra "Nacidos para Incordiarse" que ainda não
tem uma versão em português, leia a entrevista que o jornalista Paulo Vinicius
Coelho, dos canais ESPN fez com o autor do livro Alfredo Relaño, segue o link: http://espn.uol.com.br/post/450663_autor-de-livro-sobre-el-clasico-diz-que-dinheiro-de-tv-fez-o-maior-classico-do-planeta-e-diminui-rivalidade-politica
Um pouco de história
Madrid é a capital e a maior
cidade da Espanha. Localizada no centro geográfico do país, é hoje considerada
o centro financeiro e político da Península Ibérica. Barcelona é a segunda
maior cidade da Espanha, localizada na fronteira leste do país, na costa do
Mediterrâneo. Barcelona é hoje o maior centro industrial do país, e o seu porto
é um dos mais importantes do Mediterrâneo em tonelagem de mercadorias e
containers. No entanto, não é localização geográfica e atividade econômica que
explica de verdade a rivalidade existente, mas sim toda a história do país e seu
passado político. A Espanha se unificou como nação, mas é o resultado da soma
de várias regiões com características culturais muito diferentes entre si, e
que foram durante muitos séculos, governadas como reinos totalmente
independentes.
Claro que a maioria dos países
atuais também foram formados pela unificação de regiões e territórios
conquistados em guerras, mas conseguiram adotar uma língua única e uma
identidade como nação. No Brasil tivemos no passado alguns movimentos
separatistas, mas no presente nenhum movimento que se pretenda separatista tem
muita força e adesão quanto a que ocorre agora na Espanha.
As diferenças culturais na
Espanha são muito fortes e mantidas vivas até hoje, e o país convive
frequentemente com grupos separatistas até extremados, como é o caso do ETA (Euskadi Ta Askatasuna) que quer a independência do País Basco. Desde a Constituição de 1978, a Espanha
está oficialmente dividida em 17 Comunidades Autônomas. Quatro delas: Galícia,
País Basco, Andaluzia e Catalunha possuem maior autonomia e poder de decisão e
soberania com relação às demais, autonomia devidamente reconhecida pela
Constituição. Essa divisão e autonomia ajudou a respeitar as diferenças de cada
região, e foi a solução encontrada para a transição democrática da época
pós-franquista para enfrentar o problema eterno das reivindicações democráticas
de independência.
Durante a ditadura de Francisco Franco,
qualquer movimento de separação e independência foi devidamente sufocado e
mantido sob controle. Franco chegou ao poder liderando um movimento de extrema
direita, depois de levar o país a uma violentíssima guerra civil que deixou mais ou menos 1 milhão de mortos no país. Como o
movimento franquista nasceu em Madrid, entendemos porque é mais fácil encontrar
pessoas em Barcelona mais inflamadas contra Madrid do que o oposto. Todas as
outras regiões, e como consequência também a Catalunha e sua capital Barcelona,
tiveram de aceitar as regras e a forte repressão do regime imposto por Madrid.
Essa rivalidade se reflete na rixa radical existente entre os dois principais
times de futebol do país. Para a população catalã, o Real Madrid representava a
realeza e o poder centralizador de Madrid e imposição da Espanha como Estado
Maior. Já o Barcelona simbolizava a resistência e o nacionalismo catalão,
representando sua cultura e seu desejo de independência sobre a Espanha.
Se o lema do Barcelona é “mais que um clube”, ou em catalão, “més que um club”, o superclássico contra
o Real Madrid por todos os motivos históricos já citados é muito mais que um simples jogo de futebol, e esta
partida de sábado será mais um imperdível capitulo da história de um clássico que transcende as barreiras do futebol.
Real Madrid x Barcelona na história:
228 jogos (oficiais)
91 vitórias do Real Madrid
48 empates
89 vitórias do Barcelona
384 gols marcados pelo Real
Madrid
368 gols marcados pelo Barcelona
Maior goleada:
Real Madrid 11 x 1 Barcelona (Copa
de S.E. El Generalísimo 1942/1943)
Maior artilheiro:
Lionel Messi (Barcelona) - 21 gols
Último confronto:
Real Madrid 2 x 1 Barcelona (Final da Copa do Rei - 16/04/2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário