quinta-feira, 23 de outubro de 2014

EQ CONTA: Mais que um jogo

Real Madrid e Barcelona duelam neste sábado em um jogo que vale muito mais do que a liderança do Campeonato Espanhol (Foto: David Ramos/Getty Images)

Dois dos principais times do mundo se encontrarão pela 229º vez na história no próximo sábado (25/10), no Santiago Bernabéu, para disputar muito mais do que um simples jogo de futebol. Real Madrid e Barcelona se enfrentarão em um momento único de suas respectivas histórias, o time da capital espanhola vem de uma temporada histórica, já os catalães lutam para recuperar a hegemonia de títulos construída nos últimos anos, que foi perdida na última temporada.

A Espanha se divide por causa deste superclássico, ninguém fica indiferente quando Real Madrid e Barcelona se cruzam, e na partida deste sábado não será diferente. Mas nem sempre foi assim, nos primórdios da história ninguém poderia supor que um jogo dividiria um país, primeiro porque os dois times são de cidades diferentes, segundo porque um não representava a elite do país e o outro não abraçava as classes mais populares ou a ideologia de uma região. Tampouco os dois representavam grupos religiosos hostis (como ocorre no clássico entre Celtic e Rangers na Escócia).

A história explica que a rivalidade que se vê hoje em dia dentro e fora de campo foi se solidificando por questões politicas. “Não há uma data que especifique o começo dessa rivalidade entre Madrid e Barcelona. Essa hostilidade foi fomentada por uma série de episódios ao longo de toda história. O certo é que desde muito cedo, Madrid e Barcelona foram assumindo de forma mais ou menos consciente uma carga representativa em um caso da Espanha, e no outro da Catalunha. Os dois tornaram-se porta-bandeiras de duas formas de estado em discussão: a centralista e a federal”, defende o jornalista Alfredo Relaño, autor do livro Nacidos para Incordiarse (Nascidos para se odiarem, em tradução livre).

*Para saber mais sobre a obra "Nacidos para Incordiarse" que ainda não tem uma versão em português, leia a entrevista que o jornalista Paulo Vinicius Coelho, dos canais ESPN fez com o autor do livro Alfredo Relaño, segue o link: http://espn.uol.com.br/post/450663_autor-de-livro-sobre-el-clasico-diz-que-dinheiro-de-tv-fez-o-maior-classico-do-planeta-e-diminui-rivalidade-politica

Um pouco de história

Madrid é a capital e a maior cidade da Espanha. Localizada no centro geográfico do país, é hoje considerada o centro financeiro e político da Península Ibérica. Barcelona é a segunda maior cidade da Espanha, localizada na fronteira leste do país, na costa do Mediterrâneo. Barcelona é hoje o maior centro industrial do país, e o seu porto é um dos mais importantes do Mediterrâneo em tonelagem de mercadorias e containers. No entanto, não é localização geográfica e atividade econômica que explica de verdade a rivalidade existente, mas sim toda a história do país e seu passado político. A Espanha se unificou como nação, mas é o resultado da soma de várias regiões com características culturais muito diferentes entre si, e que foram durante muitos séculos, governadas como reinos totalmente independentes.

Claro que a maioria dos países atuais também foram formados pela unificação de regiões e territórios conquistados em guerras, mas conseguiram adotar uma língua única e uma identidade como nação. No Brasil tivemos no passado alguns movimentos separatistas, mas no presente nenhum movimento que se pretenda separatista tem muita força e adesão quanto a que ocorre agora na Espanha.

As diferenças culturais na Espanha são muito fortes e mantidas vivas até hoje, e o país convive frequentemente com grupos separatistas até extremados, como é o caso do ETA (Euskadi Ta Askatasuna) que quer a independência do País Basco. Desde a Constituição de 1978, a Espanha está oficialmente dividida em 17 Comunidades Autônomas. Quatro delas: Galícia, País Basco, Andaluzia e Catalunha possuem maior autonomia e poder de decisão e soberania com relação às demais, autonomia devidamente reconhecida pela Constituição. Essa divisão e autonomia ajudou a respeitar as diferenças de cada região, e foi a solução encontrada para a transição democrática da época pós-franquista para enfrentar o problema eterno das reivindicações democráticas de independência.

Durante a ditadura de Francisco Franco, qualquer movimento de separação e independência foi devidamente sufocado e mantido sob controle. Franco chegou ao poder liderando um movimento de extrema direita, depois de levar o país a uma violentíssima guerra civil que deixou mais ou menos 1 milhão de mortos no país. Como o movimento franquista nasceu em Madrid, entendemos porque é mais fácil encontrar pessoas em Barcelona mais inflamadas contra Madrid do que o oposto. Todas as outras regiões, e como consequência também a Catalunha e sua capital Barcelona, tiveram de aceitar as regras e a forte repressão do regime imposto por Madrid. Essa rivalidade se reflete na rixa radical existente entre os dois principais times de futebol do país. Para a população catalã, o Real Madrid representava a realeza e o poder centralizador de Madrid e imposição da Espanha como Estado Maior. Já o Barcelona simbolizava a resistência e o nacionalismo catalão, representando sua cultura e seu desejo de independência sobre a Espanha.

Se o lema do Barcelona é “mais que um clube”, ou em catalão, “més que um club”, o superclássico contra o Real Madrid por todos os motivos históricos já citados é muito mais que um simples jogo de futebol, e esta partida de sábado será mais um imperdível capitulo da história de um clássico que transcende as barreiras do futebol.

Real Madrid x Barcelona na história:

228 jogos (oficiais)
91 vitórias do Real Madrid
48 empates
89 vitórias do Barcelona
384 gols marcados pelo Real Madrid
368 gols marcados pelo Barcelona

Maior goleada:

Real Madrid 11 x 1 Barcelona (Copa de S.E. El Generalísimo 1942/1943)


Maior artilheiro:

Lionel Messi (Barcelona) - 21 gols


Último confronto:

Real Madrid 2 x 1 Barcelona (Final da Copa do Rei - 16/04/2014)


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