sexta-feira, 11 de julho de 2014

A revolução

Crédito da foto: Getty Images

Na última terça-feira (08/07) o futebol alemão massacrou o então país do futebol, ou pelo menos é assim que uma série de arrogantes intitulava o glorioso futebol tupiniquim. Por que aconteceu isso com o futebol brasileiro, foi por acaso ou foi apenas um acidente de percurso como disse a comissão técnica da Seleção Brasileira no dia seguinte à eliminação da Copa do Mundo.

Em abril de 2013, Paul Breitner participou do programa Bola da Vez dos canais ESPN. Para quem não conhece este senhor de 62 anos ele é uma das maiores lendas da história do futebol alemão que tem entre outros títulos a Eurocopa de 1972 e a Copa do Mundo de 1974. Hoje Breitner é embaixador do Bayern de Munique e um profundo estudioso do futebol. Neste Bola da Vez exibido a pouco mais de um ano ele não falou apenas de seu passado como jogador, ele falou sobre todos os aspectos do futebol, apresentando aos brasileiros uma visão bem moderna de gestão esportiva e até social, não pensando no futebol apenas como uma forma de entreter as pessoas, mas como um negócio que gere lucro para a sociedade, não atoa hoje em dia a liga de futebol alemã (Bundesliga) paga impostos ao governo alemão e ainda precisa prestar contas do dinheiro que for investido.

Voltando ao Bola da Vez, Breitner falou também da importância de se estruturar um clube de futebol desde a sua categoria de base, fazendo com que mude a mentalidade de dirigentes e principalmente dos jogadores. Ele também falou da importância de se construir um campeonato nacional forte e que tivesse equilíbrio técnico e financeiro, para evitar que a competição fosse dominada por dois ou três times.

A grande pergunta que alguns podem se fazer é onde tudo isso começou e por que o futebol alemão chegou nesse nível de profissionalismo, a resposta vem a seguir.

Tudo começou na Eurocopa de 2000, que teve como sede a Bélgica e a Holanda. A Alemanha chegou naquela Euro como favorita, na fase de grupos os alemães estavam na chave com Portugal, Romênia e Inglaterra. Na primeira partida do torneio os alemães encararam a Romênia, e empataram por 1 a 1. No segundo jogo o adversário foi à Inglaterra, os ingleses venceram por 1 a 0. Na terceira e última partida o time alemão foi atropelado pela seleção portuguesa, 3 a 0. Assim a Alemanha foi eliminada daquela Euro, sem vencer um único jogo tendo anotado apenas um gol.

Depois de serem humilhados no cenário Europeu os dirigentes do futebol alemão fizeram uma reflexão sobre o futebol local, ali eles puderam perceber que o futebol disputado no país não era mais competitivo como em anos anteriores e que eles precisavam mudar. Foi então que eles montaram um plano para reerguer o futebol.

Revolução Alemã: O que mudou no futebol alemão nos últimos 12 anos


  • De 2001 até junho de 2014 foi investido 2.2 bilhões de reais no futebol local.

  • Times da primeira e segunda divisão são obrigados a ter academias para as categorias de base, essas academias tem que dar auxílio técnico e social ao atleta.

  • A federação de futebol auxiliou os clubes na construção dessas instalações.

  • A federação alemã criou 366 centros de formação para jovens.

  • Os centros de formação não tem qualquer ligação com os clubes.

  • Cerca de 25 mil jovens passam por esses centros de formação por ano.

  • 1.000 técnicos são empregados por este programa.

  • Dinheiro público não foi utilizado pela federação alemã.

  • A organização da Copa do Mundo de 2006 ajudou na modernização dos estádios.

  • Os gastos dos clubes são controlados pela liga de futebol.

  • Os clubes da primeira e segunda divisão são obrigados a prestar contas do dinheiro que é investido três vezes por ano.

  • Para contratar jogadores os clubes são obrigados a dar garantias aos atletas e a liga.

  • A folha de pagamento não pode ser maior que 50% da arrecadação do clube no decorrer da temporada.

  • Foi criada também uma Federação Nacional de Técnicos.

  • Para um técnico dirigir um clube na Bundesliga ele precisa de uma licença de trabalho.

  • A Federação Nacional de Técnicos patrocina intercâmbios e viagens para seus treinadores ao redor do mundo.

  • A Bundesliga é a liga de futebol mais rentável do planeta.

  • A Bundesliga tem a maior média de público do futebol mundial, 45 mil torcedores por jogo.

“O nosso segredo é que nós trabalhamos muitos anos para chegar aonde nós chegamos. Agora sim nós podemos dizer que somos um dos favoritos para a Copa do Mundo”. Wolfgang Niersbach, presidente da Federação Alemã de Futebol.

Nos últimos anos o futebol brasileiro vem acumulando fracassos, vide a goleada que o Santos (então melhor time do Brasil) sofreu para o Barcelona na final do Mundial de clubes de 2011. Aquele jogo deixou a mesma impressão que essa partida de terça entre Brasil e Alemanha, o resultado das duas partidas todos já sabem, o importante é a reflexão que esses dois jogos nos fizeram ter. As duas derrotas levantaram os mesmo questionamentos, aqueles que todos nós já conhecemos de cor e salteado. A pergunta que fica é o que mudou de 2011 para 2014 no “país do futebol”?

A resposta para essa última pergunta é fácil, nada mudou e a tendência é que nada mude tão cedo. A CBF e seus dirigentes não tem o menor interesse que o futebol brasileiro cresça, vide a forma como essa entidade organiza seu calendário. Temos um campeonato de nível técnico muito discutível (para dizer o mínimo), futebol de base comandado por empresários que visam apenas o próprio lucro e públicos baixíssimos em todos os jogos. O Campeonato Brasileiro é um produto que está extremamente maltratado, tudo por conta da falta de profissionalismo de quem diz que organiza.

José Maria Marin, presidente da CBF já cansou de dizer que ele e a CBF só falam de Seleção Brasileira, mas o engraçado é que depois do massacre de terça eles se esconderam atrás de uma comissão técnica arrogante e prepotente e do maior astro do fraco futebol brasileiro.

Antes da Copa, o auxiliar técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira disse que a CBF é o Brasil que deu certo. A Copa mostrou que a CBF está longe de ser o Brasil o que deu certo como Parreira tinha dito, não atoa a presidenta da república, Dilma Rousseff disse que a grande lição que a Copa deixou ao país é a necessidade de reformar o futebol brasileiro.

O Brasil precisa de uma revolução imediata, o exemplo alemão está ai, basta querer copiar. 

Deixo aqui a entrevista completa de Paul Breitner aos canais ESPN. Vejam e reflitam sobre tudo que ele falou.

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