quarta-feira, 20 de agosto de 2014

História dos Mundiais de Basquete - 1º Parte

Por Bruno Alcaras, do Pacer Nation Brasil


Faltando 10 dias para o início da 17º Copa do Mundo de Basquete Masculino o EQ Sports News Brasil começa uma série de posts contando um pouco da história de cada um dos Mundiais. Nesse primeiro artigo falaremos do início da ideia de um Mundial de Basquete e de suas quatro primeiras edições do torneio.

O início

Em 1948 no Congresso da FIBA que ocorreu durante as Olimpíadas de Londres, o então secretário geral da FIBA Renato William Jones, inspirado nos Mundiais de futebol e vendo o sucesso que o basquete estava fazendo naquela edição dos jogos (o torneio Olímpico contou com a participação de 23 equipes), propôs que fosse criado um Mundial de Basquete organizado pela FIBA que seria disputado a cada quatro anos se intercalando com as Olimpíadas e teria sua primeira edição disputada em 1950.

O país escolhido para sediar a primeira edição do Mundial foi à Argentina. Alguns dos motivos que levaram a essa escolha foram:

*  A Europa ainda se recuperava dos efeitos da Segunda Guerra Mundial que havia acabado a apenas três anos do Congresso e cinco anos do início do Mundial;

*  A Argentina desfrutava de grande prestígio internacional e era um dos oito países que ajudaram a fundar a FIBA em 1932;

 Foi um dos únicos países a se candidatar a complicada tarefa de sediar um Mundial naquela época.

Com tudo definido, a espera para o primeiro Campeonato Mundial de Basquete seria de apenas dois anos.

1º Campeonato Mundial – 1950 – Argentina

Originalmente os times classificados para o primeiro Mundial foram:

*  Argentina: País sede;

*  Estados Unidos, França e Brasil: Os três melhores times das Olimpíadas de 1948;

*  Uruguai e Chile: Os dois melhores classificados do Sul-Americano de 1949, o Chile foi o 3º, mas entrou na vaga do vice Brasil que já estava classificado via Olimpíada;

*  Egito e França: Os dois melhores do EuroBasket de 1949. Vale lembrar que hoje em dia o Egito disputa o FIBA África, mas até 1953 disputova o EuroBasket;

*  Dois times asiáticos;

Mas as coisas não saíram exatamente assim:

* O Uruguai, então campeão Sul-Americano, por problemas políticos com a Argentina se recusou a participar do torneio e foi substituído pelo Peru, o 4º colocado no sul-americano de 1949;

As equipes asiáticas também desistiram de participar pela dificuldade de vir até a América do Sul para disputar o torneio e foram substituídas por Equador e um europeu (Iugoslávia ou Espanha);

     * E um Europeu no lugar da França que já tinha vaga garantida pelo 2º lugar nas Olimpíadas de 1948 (Iugoslávia ou Espanha). 

Com os participantes definidos, os jogos que seriam todos disputados no Luna Park em Buenos Aires, começaram no dia 22 de outubro de 1950 com as vitórias de Peru sobre a Iugoslávia e do Egito sobre o Equador. Após um breve “mata-mata” sobraram seis times (Argentina, Estados Unidos, Chile, Brasil, Egito e França) que formaram um grupo e se enfrentaram entre si durante os dias 27/10 e 03/11 para então decidir o campeão.

O campeão – Argentina

Foto do time argentino campeão mundial em 1950 (Autor desconhecido)

A Argentina só se classificou para esse Mundial por ser o país sede, porque o 15º lugar nas Olimpíadas de 1948 e o 5º lugar no Sul-Americano de 1949 não dariam a vaga ao time argentino.

Com uma campanha perfeita de seis vitórias (uma na fase preliminar e cinco no grupo final) a Argentina garantiu o título do primeiro Mundial após bater os Estados Unidos por 64 a 50 numa espécie de final não oficial, já que no grupo final os dois eram os únicos invictos e o título iria para o vencedor desse jogo.

O time argentino contava com grandes nomes do basquete mundial da época, como o pivô Oscar Furlong o capitão Ricardo Gonzales entre outros. Todos os jogadores daquela seleção eram amadores e se prepararam para o Mundial treinando em dois períodos, o que não era comum pra época. Essa que foi a melhor geração argentina até os anos 2000. 

Aquela geração argentina ainda conseguiu o vice do Pan Americano de 1951 e o 4º lugar nos jogos olímpicos de 1952, mas infelizmente por razões políticas não participou do Mundial de 1954.

O MVP – Oscar Furlong - Argentina

Com média de 11.1 pontos por jogo, o argentino Oscar Furlong foi escolhido o MVP do Mundial. Oscar Furlong era considerado um dos melhores jogadores do Mundo na época.

O pivô, apelidado de El Primer Crack, teve ofertas para jogar nos Estados Unidos por times como o Minneapolis Lakers (atual Los Angeles Lakers) e Baltimore Bullets (atual Washington Wizards), mas não aceitou as ofertas. Oscar esteve com a seleção entre 1948 e 1957 quando foi proibido de praticar basquete por motivos político e passou a se dedicar ao tênis chegando ao 7º lugar no ranking argentino da modalidade. Em 1980 foi escolhido como o maior jogador de basquete argentino da história. Como curiosidade, Furlong chegou a participar de um filme em 1953 chamado “En Cuerpo e Alma”.

Campanha do Brasil

O Brasil contava com vários jogadores medalhistas de bronze nas Olimpíadas de 1948, entre eles Algodão um dos melhores jogadores brasileiros de todos os tempos que faria parte das seleções nacionais até 1960. Com uma campanha de três vitórias (pra cima de Peru, Egito e França) e três derrotas (contra Argentina, Estados Unidos e Chile) a Seleção Brasileira acabou ficando com o 5º lugar do primeiro Campeonato Mundial.

Classificação Final

Argentina
Estados Unidos
Chile

2º Campeonato Mundial – 1954 – Brasil


Foto do jogo entre Estados Unidos e Brasil no Mundial de 1954 (Autor desconhecido)

O campeonato mundial de 1954 foi mais uma vez disputado na América do Sul, especificamente no Brasil. Todos os jogos foram disputado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.

Os 12 participantes foram:

*  Brasil: País sede;

*  Estados Unidos: Campeão Olímpico em Helsinque 1952 representado pelo time da empresa Caterpillar, que tinha vencido o campeonato amador do país norte-americano;

*  Paraguai, Uruguai, Chile e Peru: Os melhores classificados do Sul-Americano de 1953, com exceção do Brasil já garantido como país sede;

*  Israel, Iugoslávia e França: Melhores colocados no EuroBasket de 1953. União Soviética e Hungria não participaram daquela edição;

*  Canadá, Filipinas e Taiwan: Como convidados. Pela primeira vez times asiáticos participariam de um Mundial.

A falta mais sentida foi da equipe campeã em 1950, a Argentina, por razões políticas não participou do Sul-Americano de 1953 e por consequência não pode participar do Mundial de 1954.

Com os participantes definidos foram feitos quatro grupos com três times cada para que fosse disputada uma espécie de classificatória em que os dois primeiros de cada grupo se enfrentariam entre si na fase final.

Estados Unidos, Brasil. Filipinas, França, Taiwan, Uruguai, Canadá e Israel foram os classificados e disputaram a fase final entre os dias 27 de outubro e 5 de novembro.

O campeão – Estados Unidos

Com uma campanha invicta de nove vitórias o time americano garantiu o título ao bater o Brasil na final por 62 a 41 no dia 5 de outubro.

O time americano venceu todos os campeonatos olímpicos desde 1936, mas não se importava muito com os mundiais. Após ser representado em 1950 por um time de uma fábrica da Chevrolet mandou em 1954 um time formados pelos jogadores do Peoria Caterpillars, time que era três vezes campeão do maior campeonato amador de basquete dos Estados Unidos na época.

O MVP – Kirby Minter - Estados Unidos

Nascido em Oklahoma o jogador de 1,98 marcou 100 pontos no campeonato e teve média de 11.1 pontos por jogo. Minter tem um dia dedicado a ele em Oklahoma, dia 4 de janeiro é comemorado o “Kirby Minter Day” na cidade.

Campanha do Brasil

O Brasil começava nesse Mundial a formar a sua geração mais gloriosa com jogadores como o veterano de 1950, Algodão, e dois jogadores que seriam a base das conquistas futuras, Wlamir Marques e Amaury Pasos.

O time comandado por Togo Renan Soares (mais conhecido como Kanela) vinha de um 6º lugar nas Olímpiadas de 1952 e um vice do Sul-Americano de 1953 onde conquistou oito vitórias em nove jogos sendo derrotado apenas no último jogo pelo campeão Estados Unidos diante de 35 mil torcedores no recém-inaugurado Maracanãzinho.  Wlamir Marques, com 17 anos, e Algodão foram escolhidos para o time do campeonato. 

Classificação Final

Estados Unidos
Brasil
Filipinas

3º Campeonato Mundial – 1959 – Chile

O campeonato mundial de 1959 originalmente seria disputado em 1958, mas com a escolha do Chile como sede da Copa do Mundo de 1962 as verbas para construção do Metropolitan Indoor Stadium em Santiago, que seria usado para o Mundial, foi direcionada para construção dos estádios para Copa ocasionando assim o atraso do campeonato mundial que foi movido para janeiro de 1959. O estádio Nacional de Santiago, usado para jogos de futebol, foi adaptado para receber jogos de basquete naquele Mundial.

Como curiosidade, o Metropolitan Indoor Stadium que começou a ser construído em 1956 só foi inaugurado oficialmente em 2006 com o nome de Movistar Arena. 

Os 13 participantes foram:

*  Chile: País sede;

*  Estados Unidos: Campeão Olímpico em Melbourne 1956 que foi representado pelo time do exército;

*  Brasil, Uruguai e Argentina: Os três melhores colocados no Sul-Americano de 1958. O Paraguai que foi o 3º colocado não participou e deu lugar a Argentina;

*  União Soviética e Bulgária: Os dois melhores do EuroBasket de 1957. Pela primeira os países do Leste Europeu, que dominavam o basquete do continente na época, participaram do Mundial;

*  Canadá, México: Representantes da América do Norte convidados pela FIBA; 

*  Emirados Árabes, Filipinas e Taiwan: Representantes da Ásia convidados pela FIBA;

*  Porto Rico: Representante da América Central convidado pela FIBA.

Com os participantes definidos foram formados três grupos de quatro participantes cada que se enfrentariam entre os dias 16 e 18 de janeiro. Desses grupos sairiam duas seleções que se juntariam ao Chile para disputa da fase final do torneio. 

O campeão – Brasil

Foto do time brasileiro campeão mundial em 1959 (Autor desconhecido)

A geração vice-campeã mundial em 1954 tinha amadurecido. O time que contava ainda com Algodão, veterano de 50 e 54 e a dupla Wlamir Marques e Amaury Pasos, presentes no vice de 54, ganhou mais um protagonista, o versátil Carmo de Sousa, mais conhecido como Rosa Branca, uma das maiores lendas do basquete brasileiro.

Durante a primeira fase, jogando no grupo B, o Brasil foi derrotado apenas pela União Soviética, mas mesmo assim garantiu o primeiro lugar nos critérios de desempate já que a mesma União Soviética, na segunda rodada do grupo, foi derrotada pelo Canadá.

A fase final daquele mundial foi disputada por Brasil, Estados Unidos, Chile, Taiwan, Porto Rico, União Soviética e Bulgária. Com cinco vitórias e uma derrota (novamente para União Soviética) o Brasil garantiu o título após vencer o Chile no Estádio Nacional de Santiago. A geração formada em 1954 começava a dar frutos.

Uma curiosidade dessa fase final é que a União Soviética, então invicta, e a Bulgária se recusaram a enfrentar Taiwan por não reconhecerem o país e foram relegadas aos últimos lugares do grupo final.

O MVP – Amaury Pasos - Brasil

Amaury Pasos nasceu em São Paulo, mas aos cinco anos se mudou para Argentina onde começou a jogar basquete. Na Argentina dividia seu tempo entre o basquete e a natação. De volta ao Brasil jogou Amaury jogou pelo Tietê, Sírio e Corinthians (o mais vitorioso time da época).

O pivô chegou a ser convidado a jogar nos Estados Unidos, mas preferiu se dedicar a Seleção Brasileira. Participou dos melhores momentos do Brasil, sendo convocado entre os Mundiais de 1954, então com 18 anos, até o Mundial de 1967.

Após encerrar sua carreira dirigiu alguns times e a própria Seleção Brasileira em alguns jogos. Amaury Teve média de 15,2 pontos naquele mundial. Em 1991 Amaury Pasos foi escolhido como um dos 50 maiores jogadores da história dos campeonatos mundiais da FIBA.

Classificação Final

Brasil
Estados Unidos
Chile

4º Campeonato Mundial – 1963 – Brasil

O 4º Mundial de basquete deveria ser o primeiro disputado fora da América do Sul. As Filipinas haviam sido a escolhida para sediar o Mundial de 1963, mas o governo do país se negou a conceder vistos aos jogadores de União Soviética e Iugoslávia por esses países serem socialistas na época. A política mais uma vez interferia no Mundial de Basquete.

Como União Soviética e Iugoslávia dominavam o cenário europeu na época ficou decidido que a sede deveria ser trocada para contar com a participação dos dois e a nova sede escolhida foi o Brasil, que sediaria a Mundial pela segunda vez em quatro edições.

Os 13 participantes foram:

*  Brasil: Que era o país sede e entraria no campeonato apenas na fase final;

*  Estados Unidos: Campeão Olímpico em Roma 1960;

*  Uruguai, Argentina e Peru: Classificados através do Sul-Americano de 1961 que teve o Brasil como campeão. O Paraguai 4º colocado não participou, dando lugar ao Peru, então 5º colocado;

*  União Soviética, Iugoslávia e França: Os três melhores do EuroBasket de 1961, com exceção do 3º colocado Bulgária que deu lugar a França que havia ficado em 4º;

*  Canadá, México, Porto Rico, Itália e Japão: Convidados pela FIBA.

Com os participantes definidos as regras de classificação seguiriam a mesma lógica de três grupos com quatro participantes de onde sairiam os dois melhores de cada grupo para se juntar ao Brasil, o país sede, no grupo final.

Os jogos da primeira fase foram disputados entre 12 e 14 de maio e os grupos tiveram como vencedores a União Soviética e França no Grupo A, Iugoslávia e Porto Rico no Grupo B e Estados Unidos e Itália no Grupo C. Os classificados se juntaram ao Brasil para disputa da fase final daquele torneio que foi jogado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro entre os dias 16 e 25 de maio.

O campeão – Brasil

Foto do time brasileiro bicampeão mundial em 1963 (Autor desconhecido)

O Brasil venceu todos os seus seis jogos no grupo final num Maracanãzinho com lotação sempre superior a 25 mil pessoas. O time brasileiro encontrou alguns fantasmas nos seis últimos jogos como a União Soviética (vitória por 90 a 79) que havia derrotado o Brasil duas vezes em 1959 e Estados Unidos (vitória por 85 a 81) mais uma vez no último jogo e no Maracanãzinho, assim como em 1954 quando os americanos venceram e ficaram com o título.

A melhor geração brasileira de todos os tempos chegava ao seu auge conquistando o inédito bicampeonato mundial, assim como havia feito a seleção de futebol em 1958 e 1962. Amaury Pasos e Wlamir Marques foram escolhidos para o time do campeonato.

Esse foi o primeiro Mundial sem a presença de Algodão e o primeiro de outro dos grandes nomes do basquete brasileiro, Ubiratan Pereira Maciel então com 19 anos. As estrelas Amaury Pasos, Wlamir Marques e Rosa Branca também faziam parte daquele elenco.

Wlamir Marques, Amaury Pasos, Carmo de Souza, o Rosa Branca e Jatyr Eduardo Schall estiveram presentes nas duas conquistas e são os únicos brasileiros bicampeões mundiais.

O MVP – Wlamir Marques - Brasil

Apelidado de “Diabo Loiro” o ala nascido em São Vicente no litoral paulista se dividiu durante sua juventude entre o basquete com outros esportes como natação, o futebol e o vôlei. Wlamir iniciou sua carreira no basquete no Clube Tumiaru de São Vicente indo depois para o forte time do XV de Piracicaba. Em 1959 atraiu a atenção do time de basquete do Corinthians e chegou ao clube de São Paulo em uma troca que envolveu um jogador de basquete por um jogador de futebol. Wlamir passou ainda pelo Tênis Clube de Campinas e pelo Palmeiras,

Wlamir chegou à seleção adulta aos 16 anos e em apenas dois jogos já era o titular de sua posição. Esteve com a seleção nos campeonatos mais importantes desde o Mundial de 1954 aos 17 anos até o Mundial de 1970. Após encerrar sua carreira de jogador passou a carreira de treinador conquistando muitos títulos.

A partir de 1982 na Rede Globo passou a ser comentarista de basquete, Wlamir passou ainda pela extinta Rede Manchete e atualmente é um dos comentaristas de basquete dos canais ESPN.

Wlamir Marques é o jogador com mais medalhas em Mundiais de Basquete junto com o iugoslavo Krešimir Ćosić, os dois tem dois ouros e duas pratas. Em 2010 Wlamir foi eleito o 9º maior atleta brasileiro de todos os tempos pela revista ESPN.

Classificação Final

Brasil
Iugoslávia
União Soviética

Essa foi à primeira parte do especial sobre a história dos Mundiais, na sexta-feira dia 22 de agosto falaremos sobre os Mundiais entre 1967 e 1978. Até mais!

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