Por Bruno Alcaras, do Pacer Nation Brasil
Faltando 10
dias para o início da 17º Copa do Mundo de Basquete Masculino o EQ Sports News
Brasil começa uma série de posts contando um pouco da história de cada um dos
Mundiais. Nesse primeiro artigo falaremos do início da ideia de um Mundial de Basquete e de suas quatro primeiras edições do torneio.
O início
Em 1948 no
Congresso da FIBA que ocorreu durante as Olimpíadas de Londres, o então
secretário geral da FIBA Renato William Jones, inspirado nos Mundiais de futebol
e vendo o sucesso que o basquete estava fazendo naquela edição dos jogos (o
torneio Olímpico contou com a participação de 23 equipes), propôs que
fosse criado um Mundial de Basquete organizado pela FIBA que seria disputado a
cada quatro anos se intercalando com as Olimpíadas e teria sua primeira edição
disputada em 1950.
O país
escolhido para sediar a primeira edição do Mundial foi à Argentina. Alguns dos motivos que
levaram a essa escolha foram:
* A Europa ainda se recuperava dos
efeitos da Segunda Guerra Mundial que havia acabado a apenas três anos do
Congresso e cinco anos do início do Mundial;
* A Argentina desfrutava de grande
prestígio internacional e era um dos oito países que ajudaram a fundar a FIBA
em 1932;
* Foi um dos únicos países a se
candidatar a complicada tarefa de sediar um Mundial naquela época.
Com tudo
definido, a espera para o primeiro Campeonato Mundial de Basquete seria de
apenas dois anos.
1º
Campeonato Mundial – 1950 – Argentina
Originalmente
os times classificados para o primeiro Mundial foram:
* Argentina: País sede;
* Estados Unidos, França e Brasil: Os
três melhores times das Olimpíadas de 1948;
* Uruguai e Chile: Os dois melhores classificados
do Sul-Americano de 1949, o Chile foi o 3º, mas entrou na vaga do vice Brasil
que já estava classificado via Olimpíada;
* Egito e França: Os dois melhores do
EuroBasket de 1949. Vale lembrar que hoje em dia o Egito disputa o FIBA África,
mas até 1953 disputova o EuroBasket;
* Dois times asiáticos;
Mas as
coisas não saíram exatamente assim:
* O Uruguai, então campeão Sul-Americano,
por problemas políticos com a Argentina se recusou a participar do torneio e
foi substituído pelo Peru, o 4º colocado no sul-americano de 1949;
* As equipes asiáticas também desistiram
de participar pela dificuldade de vir até a América do Sul para disputar o
torneio e foram substituídas por Equador e um europeu (Iugoslávia ou Espanha);
* E um Europeu no lugar da França que já
tinha vaga garantida pelo 2º lugar nas Olimpíadas de 1948 (Iugoslávia ou
Espanha).
Com os
participantes definidos, os jogos que seriam todos disputados no Luna Park em
Buenos Aires, começaram no dia 22 de outubro de 19 50 com as vitórias de Peru
sobre a Iugoslávia e do Egito sobre o Equador. Após um breve “mata-mata”
sobraram seis times (Argentina, Estados Unidos, Chile, Brasil, Egito e França)
que formaram um grupo e se enfrentaram entre si durante os dias 27/10 e 03/11
para então decidir o campeão.
O campeão –
Argentina
Foto do time argentino campeão
mundial em 1950 (Autor desconhecido)
A Argentina
só se classificou para esse Mundial por ser o país sede, porque o 15º lugar nas Olimpíadas de 1948 e o 5º lugar no Sul-Americano de 1949 não dariam a vaga ao
time argentino.
Com uma
campanha perfeita de seis vitórias (uma na fase preliminar e cinco no grupo
final) a Argentina garantiu o título do primeiro Mundial após bater os Estados
Unidos por 64 a 50 numa espécie de final não oficial, já que no grupo final os
dois eram os únicos invictos e o título iria para o vencedor desse jogo.
O time
argentino contava com grandes nomes do basquete mundial da época, como o pivô
Oscar Furlong o capitão Ricardo Gonzales entre outros. Todos os jogadores
daquela seleção eram amadores e se prepararam para o Mundial treinando em dois
períodos, o que não era comum pra época. Essa que
foi a melhor geração argentina até os anos 2000.
Aquela geração argentina ainda conseguiu o vice do Pan Americano de 1951 e o 4º lugar nos jogos olímpicos de 1952, mas infelizmente por razões políticas não participou do Mundial de 1954.
Aquela geração argentina ainda conseguiu o vice do Pan Americano de 1951 e o 4º lugar nos jogos olímpicos de 1952, mas infelizmente por razões políticas não participou do Mundial de 1954.
O MVP – Oscar Furlong - Argentina
Com média
de 11.1 pontos por jogo, o argentino Oscar Furlong foi escolhido o MVP do
Mundial. Oscar Furlong era considerado um dos melhores jogadores do Mundo na
época.
O pivô,
apelidado de El Primer Crack, teve ofertas para jogar nos Estados Unidos por
times como o Minneapolis Lakers (atual Los Angeles Lakers) e Baltimore Bullets
(atual Washington Wizards), mas não aceitou as ofertas. Oscar esteve com a
seleção entre 1948 e 1957 quando foi proibido de praticar basquete por motivos
político e passou a se dedicar ao tênis chegando ao 7º lugar no ranking
argentino da modalidade. Em 1980 foi escolhido como o maior jogador de basquete
argentino da história. Como curiosidade, Furlong chegou a participar de um
filme em 1953 chamado “En Cuerpo e Alma”.
Campanha do
Brasil
O Brasil
contava com vários jogadores medalhistas de bronze nas Olimpíadas de 1948,
entre eles Algodão um dos melhores jogadores brasileiros de todos os tempos que
faria parte das seleções nacionais até 1960. Com uma campanha de três vitórias
(pra cima de Peru, Egito e França) e três derrotas (contra Argentina, Estados
Unidos e Chile) a Seleção Brasileira acabou ficando com o 5º lugar do primeiro Campeonato Mundial.
Classificação
Final
1º
|
Argentina
|
2º
|
Estados Unidos
|
3º
|
Chile
|
2º
Campeonato Mundial – 1954 – Brasil
Foto do jogo entre Estados Unidos e Brasil no Mundial de 1954 (Autor desconhecido)
O campeonato mundial de 1954 foi mais uma vez disputado na América do Sul, especificamente no Brasil. Todos os jogos foram disputado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
Os 12 participantes foram:
* Brasil: País sede;
* Estados Unidos: Campeão Olímpico em Helsinque
1952 representado pelo time da empresa Caterpillar, que tinha vencido o
campeonato amador do país norte-americano;
* Paraguai, Uruguai, Chile e Peru: Os melhores
classificados do Sul-Americano de 1953, com exceção do Brasil já garantido como
país sede;
* Israel, Iugoslávia e França: Melhores
colocados no EuroBasket de 1953. União Soviética e Hungria não participaram
daquela edição;
* Canadá, Filipinas e Taiwan: Como convidados.
Pela primeira vez times asiáticos participariam de um Mundial.
A falta
mais sentida foi da equipe campeã em 1950, a Argentina, por razões políticas
não participou do Sul-Americano de 1953 e por consequência não pode participar
do Mundial de 1954.
Com os
participantes definidos foram feitos quatro grupos com três times cada para que
fosse disputada uma espécie de classificatória em que os dois primeiros de cada
grupo se enfrentariam entre si na fase final.
Estados
Unidos, Brasil. Filipinas, França, Taiwan, Uruguai, Canadá e Israel foram os
classificados e disputaram a fase final entre os dias 27 de outubro e 5 de
novembro.
O campeão –
Estados Unidos
Com uma
campanha invicta de nove vitórias o time americano garantiu o título ao bater o
Brasil na final por 62 a 41 no dia 5 de outubro.
O time
americano venceu todos os campeonatos olímpicos desde 1936, mas não se
importava muito com os mundiais. Após ser representado em 1950 por um time de
uma fábrica da Chevrolet mandou em 1954 um time formados pelos jogadores do
Peoria Caterpillars, time que era três vezes campeão do maior campeonato amador
de basquete dos Estados Unidos na época.
O MVP – Kirby
Minter - Estados Unidos
Nascido em
Oklahoma o jogador de 1,98 marcou 100 pontos no campeonato e teve média de 11.1
pontos por jogo. Minter tem um dia dedicado a ele em Oklahoma, dia 4 de janeiro
é comemorado o “Kirby Minter Day” na cidade.
Campanha do
Brasil
O Brasil
começava nesse Mundial a formar a sua geração mais gloriosa com jogadores como
o veterano de 1950, Algodão, e dois jogadores que seriam a base das conquistas
futuras, Wlamir Marques e Amaury Pasos.
O time comandado
por Togo Renan Soares (mais conhecido como Kanela) vinha de um 6º lugar nas
Olímpiadas de 1952 e um vice do Sul-Americano de 1953 onde conquistou oito
vitórias em nove jogos sendo derrotado apenas no último jogo pelo campeão
Estados Unidos diante de 35 mil torcedores no recém-inaugurado Maracanãzinho. Wlamir Marques, com 17 anos, e Algodão foram
escolhidos para o time do campeonato.
Classificação
Final
1º
|
Estados Unidos
|
2º
|
Brasil
|
3º
|
Filipinas
|
3º Campeonato Mundial – 1959 – Chile
O
campeonato mundial de 1959 originalmente seria disputado em 1958, mas com a
escolha do Chile como sede da Copa do Mundo de 1962 as verbas para construção
do Metropolitan Indoor Stadium em Santiago, que seria usado para o Mundial, foi
direcionada para construção dos estádios para Copa ocasionando assim o atraso
do campeonato mundial que foi movido para janeiro de 1959. O estádio Nacional
de Santiago, usado para jogos de futebol, foi adaptado para receber jogos de
basquete naquele Mundial.
Como
curiosidade, o Metropolitan Indoor Stadium que começou a ser construído em 1956
só foi inaugurado oficialmente em 2006 com o nome de Movistar Arena.
Os 13 participantes foram:
* Chile: País sede;
* Estados Unidos: Campeão Olímpico em Melbourne
1956 que foi representado pelo time do exército;
* Brasil, Uruguai e Argentina: Os três melhores
colocados no Sul-Americano de 1958. O Paraguai que foi o 3º colocado não
participou e deu lugar a Argentina;
* União Soviética e Bulgária: Os dois melhores
do EuroBasket de 1957. Pela primeira os países do Leste Europeu, que dominavam
o basquete do continente na época, participaram do Mundial;
* Canadá, México: Representantes da América do
Norte convidados pela FIBA;
* Emirados Árabes, Filipinas e Taiwan: Representantes
da Ásia convidados pela FIBA;
* Porto Rico: Representante da América Central
convidado pela FIBA.
Com os
participantes definidos foram formados três grupos de quatro participantes cada
que se enfrentariam entre os dias 16 e 18 de janeiro. Desses grupos sairiam
duas seleções que se juntariam ao Chile para disputa da fase final do torneio.
O campeão –
Brasil
Foto do time
brasileiro campeão mundial em 1959 (Autor desconhecido)
A geração
vice-campeã mundial em 1954 tinha amadurecido. O time que contava ainda com
Algodão, veterano de 50 e 54 e a dupla Wlamir Marques e Amaury Pasos, presentes
no vice de 54, ganhou mais um protagonista, o versátil Carmo de Sousa, mais
conhecido como Rosa Branca, uma das maiores lendas do basquete brasileiro.
Durante a
primeira fase, jogando no grupo B, o Brasil foi derrotado apenas pela União
Soviética, mas mesmo assim garantiu o primeiro lugar nos critérios de desempate
já que a mesma União Soviética, na segunda rodada do grupo, foi derrotada pelo
Canadá.
A fase
final daquele mundial foi disputada por Brasil, Estados Unidos, Chile, Taiwan,
Porto Rico, União Soviética e Bulgária. Com cinco vitórias e uma derrota (novamente
para União Soviética) o Brasil garantiu o título após vencer o Chile no Estádio
Nacional de Santiago. A geração formada em 1954 começava a dar frutos.
Uma
curiosidade dessa fase final é que a União Soviética, então invicta, e a Bulgária
se recusaram a enfrentar Taiwan por não reconhecerem o país e foram relegadas
aos últimos lugares do grupo final.
O MVP – Amaury
Pasos - Brasil
Amaury Pasos
nasceu em São Paulo, mas aos cinco anos se mudou para Argentina onde começou a
jogar basquete. Na Argentina dividia seu tempo entre o basquete e a natação. De
volta ao Brasil jogou Amaury jogou pelo Tietê, Sírio e Corinthians (o mais
vitorioso time da época).
O pivô
chegou a ser convidado a jogar nos Estados Unidos, mas preferiu se dedicar a
Seleção Brasileira. Participou dos melhores momentos do Brasil, sendo convocado
entre os Mundiais de 1954, então com 18 anos, até o Mundial de 1967.
Após
encerrar sua carreira dirigiu alguns times e a própria Seleção Brasileira em
alguns jogos. Amaury Teve média de 15,2 pontos naquele mundial. Em 1991
Amaury Pasos foi escolhido como um dos 50 maiores jogadores da história dos campeonatos
mundiais da FIBA.
Classificação
Final
1º
|
Brasil
|
2º
|
Estados Unidos
|
3º
|
Chile
|
4º
Campeonato Mundial – 1963 – Brasil
O 4º
Mundial de basquete deveria ser o primeiro disputado fora da América do Sul. As
Filipinas haviam sido a escolhida para sediar o Mundial de 1963, mas o governo
do país se negou a conceder vistos aos jogadores de União Soviética e
Iugoslávia por esses países serem socialistas na época. A política mais uma vez
interferia no Mundial de Basquete.
Como União
Soviética e Iugoslávia dominavam o cenário europeu na época ficou decidido que a
sede deveria ser trocada para contar com a participação dos dois e a nova sede
escolhida foi o Brasil, que sediaria a Mundial pela segunda vez em quatro
edições.
Os 13 participantes foram:
* Brasil: Que era o país sede e entraria no
campeonato apenas na fase final;
* Estados Unidos: Campeão Olímpico em Roma 1960;
* Uruguai, Argentina e Peru: Classificados
através do Sul-Americano de 1961 que teve o Brasil como campeão. O Paraguai 4º
colocado não participou, dando lugar ao Peru, então 5º colocado;
* União Soviética, Iugoslávia e França: Os três
melhores do EuroBasket de 1961, com exceção do 3º colocado Bulgária que deu
lugar a França que havia ficado em 4º;
* Canadá, México, Porto Rico, Itália e Japão: Convidados
pela FIBA.
Com os
participantes definidos as regras de classificação seguiriam a mesma lógica de três
grupos com quatro participantes de onde sairiam os dois melhores de cada grupo
para se juntar ao Brasil, o país sede, no grupo final.
Os jogos da
primeira fase foram disputados entre 12 e 14 de maio e os grupos tiveram como
vencedores a União Soviética e França no Grupo A, Iugoslávia e Porto Rico no
Grupo B e Estados Unidos e Itália no Grupo C. Os
classificados se juntaram ao Brasil para disputa da fase final daquele torneio
que foi jogado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro entre os dias 16 e 25 de
maio.
O campeão –
Brasil
Foto do time
brasileiro bicampeão mundial em 1963 (Autor desconhecido)
O Brasil
venceu todos os seus seis jogos no grupo final num Maracanãzinho com lotação
sempre superior a 25 mil pessoas. O time brasileiro encontrou alguns fantasmas
nos seis últimos jogos como a União Soviética (vitória por 90 a 79) que havia
derrotado o Brasil duas vezes em 1959 e Estados Unidos (vitória por 85 a 81)
mais uma vez no último jogo e no Maracanãzinho, assim como em 1954 quando os
americanos venceram e ficaram com o título.
A melhor
geração brasileira de todos os tempos chegava ao seu auge conquistando o
inédito bicampeonato mundial, assim como havia feito a seleção de futebol em
1958 e 1962. Amaury Pasos e Wlamir Marques foram escolhidos para o time do
campeonato.
Esse foi o
primeiro Mundial sem a presença de Algodão e o primeiro de outro dos grandes
nomes do basquete brasileiro, Ubiratan Pereira Maciel então com 19 anos. As
estrelas Amaury Pasos, Wlamir Marques e Rosa Branca também faziam parte daquele
elenco.
Wlamir
Marques, Amaury Pasos, Carmo de Souza, o Rosa Branca e Jatyr Eduardo Schall
estiveram presentes nas duas conquistas e são os únicos brasileiros bicampeões
mundiais.
O MVP – Wlamir
Marques - Brasil
Apelidado
de “Diabo Loiro” o ala nascido em São Vicente no litoral paulista se dividiu
durante sua juventude entre o basquete com outros esportes como natação, o
futebol e o vôlei. Wlamir iniciou sua carreira
no basquete no Clube Tumiaru de São Vicente indo depois para o forte time do XV
de Piracicaba. Em 1959 atraiu a atenção do time de basquete do Corinthians e
chegou ao clube de São Paulo em uma troca que envolveu um jogador de basquete por um jogador de futebol. Wlamir passou
ainda pelo Tênis Clube de Campinas e pelo Palmeiras,
Wlamir chegou à seleção adulta aos 16 anos e em apenas dois
jogos já era o titular de sua posição. Esteve com a seleção nos campeonatos
mais importantes desde o Mundial de 1954 aos 17 anos até o Mundial de 1970.
Após encerrar sua carreira de jogador passou a carreira de treinador
conquistando muitos títulos.
A partir de 1982 na Rede Globo passou a ser comentarista
de basquete, Wlamir passou ainda pela extinta Rede Manchete e atualmente é um
dos comentaristas de basquete dos canais ESPN.
Wlamir Marques é o jogador com mais medalhas em Mundiais
de Basquete junto com o iugoslavo Krešimir Ćosić, os dois tem dois ouros e duas
pratas. Em 2010 Wlamir foi eleito o 9º maior atleta brasileiro de todos os
tempos pela revista ESPN.
Classificação Final
1º
|
Brasil
|
2º
|
Iugoslávia
|
3º
|
União Soviética
|
Essa foi à primeira parte do especial sobre a história dos Mundiais, na sexta-feira dia 22 de agosto falaremos sobre os Mundiais entre 1967 e 1978. Até mais!
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